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quinta-feira, 23 de junho de 2011

São João de Campina Grande

Campina Grande recebe 5 vezes sua população no mês de São João

Celebração leva 2 milhões de pessoas à cidade em junho.
Cidade paraibana disputa com Caruaru (PE) o título de melhor festa junina.

Daniel Buarque Do G1, em Campina Grande

Campina Grande, cidade paraibana que fica a 125 quilômetros de João Pessoa, alega ter a maior festa de São João do planeta. Durante todo o mês de junho, especialmente nesta semana em que se comemora o dia do santo, passam pela cidade 2 milhões de pessoas, segundo os dados oficiais. O número equivale a mais de cinco vezes a população permanente da cidade, que tem menos de 400 mil pessoas.
A comemoração marca a própria paisagem da cidade. Desde a chegada a ela pela BR-230, que a liga à capital do estado, já se vê uma decoração temática com balões e bandeiras coloridas em alusão ao São João. Nas ruas, é possível ouvir referências a diferentes estilos de forró o tempo todo, seja nos bares ou em som de carros.
Chegada a Campina Grande já menciona a festa que dura todo o mês de junho (Foto: Daniel Buarque/G1) 
Chegada a Campina Grande já menciona a festa que dura todo o mês de junho (Foto: Daniel Buarque/G1)
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Na programação oficial da festa, durante o mês de festas juninas, calcula-se que chegue a mil o total de horas de forró. São 90 bandas no palco principal do Parque do Povo, onde a festa se concentra, e mais de 500 atrações no total. Isso inclui desde nomes tradicionais do forró, como Dominguinhos, até a shows de tecnobrega com Calypso e bandas sertanejas.
Isso tem impacto também da economia da cidade, gerando, segundo a prefeitura, 10 mil empregos diretos.

A reconstrução da Vila Nova da Rainho no centro do São João de Campina Grande. (Foto: Daniel Buarque / G1)
Reconstrução da Vila Nova da Rainho no São João de Campina Grande. 

 Banda toca para poucos casais na Pirâmide, uma das principais áreas do Parque do Povo. (Foto: Daniel Buarque/G1)
 Pirâmide, uma das principais áreas do Parque do Povo.

São João de Campina Grande recria vila original que gerou a cidade

Parque do povo faz alusão a Vila Nova da Rainha.
Mais de dez casinhas estilizadas oferecem artesanatos e comidas.

Daniel Buarque Do G1, em Campina Grande (PB)

A reconstrução da Vila Nova da Rainho no centro do São João de Campina Grande. (Foto: Daniel Buarque / G1)Reconstrução da Vila Nova da Rainho no São João de Campina Grande. (Foto: Daniel Buarque / G1)

O Parque do Povo em Campina Grande, na Paraíba, tem uma homenagem à história da cidade que alega ter o maior São João do mundo, reunindo 2 milhões de pessoas.
 
Em uma das áreas centrais da "cidade" construída para abrigar a festa, há uma reconstrução da Vila Nova da Rainha, que é a origem histórica de Campina Grande.
A Vila no São João é um corredor com mais de dez casinhas onde são vendidos objetos de artesanato.
A decoração faz alusão à vila histórica, com aparência de cidadezinha, e com estrutura bem agradável.
A decoração faz alusão à vila histórica, com aparência de cidadezinha, e com estrutura bem agradável. (Foto: Daniel Buarque / G1)Decoração faz alusão à vila histórica: jeito de cidadezinha e estrutura agradável. (Foto: Daniel Buarque / G1)

Kit matuto

Artesãos vendem 'kit matuto' no São João de Campina Grande

Item bem-humorado inclui 'necessidades' do homem do interior do Nordeste.
Caixa traz cachaça, rapadura, mel de engenho e bala de banana.

Daniel Buarque Do G1, em Campina Grande (PB)

São João (Foto: Daniel Buarque/G1)'Kit matuto' traz cachaça, rapadura, mel de
engenho e bala de banana com açúcar.
(Foto: Daniel Buarque/G1)
Em um estande de artesanato cheio de belas obras de uma artista plástica que trabalha com serragem em madeira, uma caixa bem cuidada e de nome irônico destoa do clima sério e chama a atenção. A brincadeira atrai especialmente turistas que visitam a Vila do Artesão, onde se concentra a maior parte da produção de artesanato de Campina Grande, e se chama “kit matuto”.
Nele, há tudo o que supostamente qualquer matuto, o homem do interior do Nordeste, precisaria para sobreviver: cachaça, rapadura, mel de engenho e “nêgo bom”, uma bala regional de banana com açúcar.
A própria caixa, vendida pelo casal Lúcia e Fernando, parece mais uma obra de artesanato. Ela é oferecida em dois tamanhos, a menor por R$ 40 e a grande por R$ 80. As duas trazem os mesmos produtos, mas em quantidades diferentes.
Loja em Campina Grande onde são vendidos os 'kits essenciais para o homem do interior do Nordeste'. (Foto: Daniel Buarque/G1)Loja onde são vendidos os 'kits essenciais para o homem do interior do Nordeste'. (Foto: Daniel Buarque/G1)

Forró, o ritmo da festa de São João

Conheça as origens e a evolução do forró, o ritmo da festa de São João

Estilo passou por três grandes fases desde que surgiu, nos anos 1940.
Evolução causa disputa, mas formatos podem conviver, dizem críticos.

Daniel Buarque Do G1, em Campina Grande (PB)

Começa nesta semana o principal momento da maratona de forró nas festas de São João no Nordeste. Com a aproximação da noite oficial de comemoração do santo, na próxima sexta-feira (24), é quase impossível ouvir algum tipo de música diferente nesta época nas cidades que se transformam em principais focos da festa, como Campina Grande (PB) e Caruaru (PE).
Mas dizer que todos tocam forró não quer dizer necessariamente que a música é a mesma. Ao longo das sete décadas desde que surgiu e se espalhou pelas mãos de Luiz Gonzaga, o estilo musical que é símbolo do Nordeste passou por transformações em sua forma. Ele deixou de ser uma música puramente regional tocada com sanfona, zabumba e triângulo, se adaptou à modernidade, incorporou elementos do pop, do axé e do tecnobrega. Bandas de forró mais novas têm uma produção comparável a grandes shows de pop do mundo. Um desses grupos, Calcinha Preta, fez até mesmo apresentações em 360 graus, como as do U2.
Ouça músicas que mostram a evolução do forró na Globo Rádio
arte da linha do tempo e genealogia do forró - são joão (Foto: Editoria de Arte/G1)
A transformação gera controvérsias e disputas. O secretário de cultura da Paraíba, o cantor Chico César, criticou as bandas mais “modernas”, que chamou de “forró de plástico”. No mesmo tom, Dominguinhos, fiel ao forró original, já alegou que as bandas novas mudaram tanto o estilo que “não dá pra dizer que aquilo é forró”. Apesar da evolução e dos contrastes, os diferentes estilos do forró podem “conviver”, segundo Expedito Leandro Silva, autor de “Forró no Asfalto: mercado e identidade cultural”, em que trata da evolução e urbanização do estilo musical que é marca do São João no Nordeste. “O primeiro não deixa de existir, e o segundo continua a se modernizar e acentua suas diferenças em relação ao original”, disse ao G1.
Pesquisadores do tema costumam dividir o estilo em três grandes fases: Forró tradicional (também chamado de pé-de-serra), Forró Universitário e Forró Eletrônico. Elas são marcadas pela urbanização, incrementação técnica e adaptação do estilo ao mercado em diferentes épocas.
Elba Ramalho e Dominguinhos em um prêmio de música em 2008 (Foto: Felipe Panfili / G1)Elba Ramalho e Dominguinhos em um prêmio de
música em 2008 (Foto: Felipe Panfili / G1)
Surgimento
Logo que apareceu, o forró era uma criação artística autêntica do universo rural do sertanejo, e teve em Luiz Gonzaga seu principal divulgador e representante. A música era normalmente tocada com apenas três instrumentos e trazia nas letras temas saudosistas, regionais e com forte sotaque interiorano.
O pé-de-serra continua presente em sua forma clássica na grande festa do Nordeste. Seja pelas mãos de artistas já consagrados nacionalmente, como Dominguinhos, ou por nomes mais locais, como Santana, ainda há quem mantenha vivo o estilo original.
Reciclagem
As primeiras grandes mudanças vieram a partir de 1975, quando músicos populares da época, como Alceu Valença, Zé e Elba Ramalho e Geraldo Azevedo se enveredaram pelo forró, adaptando o estilo à época e à forma que já tocavam. Era o forró Universitário, que tinha o nome tirado do público jovem e urbano a que apelavam.
Buscamos fazer pé-de-serra junto com nosso cotidiano, nossa realidade"
Ricardo Cruz, do Falamansa
O estilo foi retomado em estilo parecido duas décadas depois, quando grupos como Falamansa e Trio Rastapé se tornaram populares nacionalmente com o “pé-de-serra adaptado ao mundo atual”, como explicou Ricardo Cruz, do Falamansa, ao G1.
“A semelhança entre a gente e Alceu Valença e Zé Ramalho existe por termos seguido um mesmo movimento de buscarmos nas fontes originais, tradicionais, como Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, aliando ao momento que vivemos. No meu caso, é a contemporaneidade, misturando o pé-de-serra” com influências de reggae, rock e MPB. Buscamos fazer pé-de-serra junto com nosso cotidiano, nossa realidade”, disse.
Cavaleiros do Forró dizem que música levanta o público (Foto: Divulgação)A banda Cavaleiros do Forró, que toca o estilo
eletrônico (Foto: Divulgação)
Revolução
Apesar da continuidade do forró tradicional e da mudança de sotaque sem grande transformação do universitário, nos anos 1990 o estilo passou por sua maior transformação. Foi quando incorporou instrumentos novos, bailarinas, roupagem mais colorida e elementos de músicas sertaneja, romântica, brega e até do axé para criar o forró eletrônico.
Também chamado forró estilizado ou até mesmo “oxente music”, o movimento começou no início da década, com grupos como Mastruz com Leite e Magníficos, e foi se tornando maior e mais transformador ao longo dos anos.
É como se pegássemos uma música de Roberto Carlos  e tocássemos em ritmo de forró"
José Inácio, Banda Magníficos
A mudança nas últimas décadas foi tão intensa, chegando a grupos como Aviões do Forró e Calcinha Preta, que, segundo o pesquisador Expedito Silva, mudaram tanto a proposta original que se aproximam mais do tecnobrega de que do forró propriamente dito.
Em entrevista ao G1, o fundador da banda Magníficos, uma das primeiras do forró estilizado, explicou que o que eles fazem é música popular romântica misturada com forró. “É como se pegássemos uma música de Roberto Carlos, por exemplo, e tocássemos em ritmo de forró”, disse José Inácio, o Jotinha.
A banda Magníficos, na verdade, começou com músicas tradicionais, pé-de-serra, mas decidiu mudar. “Luiz Gonzaga nos influenciou muito, mas adaptamos o pé-de-serra tradicional ao romântico. Gostamos e respeitamos, mas não é o que queremos fazer. Você tem que acompanhar a evolução das coisas”, disse.
Segundo Silva, que estudou a evolução do forró, o principal diferencial entre o estilo clássico e o eletrônico é que as bandas novas lidam melhor com o mercado, vendem mais. “O estilo é preferido pelas pessoas mais jovens, que se identificam mais. O que acontece é que quem gosta de forró, especialmente no Nordeste, não confunde o eletrônico com o tradicional. Ele vê o estilizado como lazer, diversão, passatempo, mas respeita o forró tradicional”, disse.